segunda-feira, 18 de junho de 2012


Ignorância: maldita bênção

            O título desse texto pode parecer uma contradição, uma incoerência, porém, a atual situação política e econômica que vivemos no Brasil justifica perfeitamente o uso dessa aberração linguística.
            Vivemos em um país cheio de “ex-miseráveis”, que graças a uma sucessão de governos razoavelmente bem sucedidos, saíram da condição de pobres ou miseráveis para a atual situação de nova classe média endividada.
            Depois de um governo que estabilizou a economia  sacrificando até certo ponto os investimentos sociais, o Brasil tem passado por uma suposta faze de “Marola”, se esquivando das crises econômicas e investindo muito e mal em um suposto modelo de desenvolvimento social.
            O fato é que nenhum dos governos de nossa recente faze democrática se preocupou com a sustentabilidade da nossa economia e muito menos houve preocupação com formação de uma massa crítica capaz de “tocar o país” de uma forma minimamente eficaz.
            Nossa economia se sustenta sobre o crescimento da exportação de matérias primas e da produtividade do setor automobilístico, sem grandes preocupações com a diversificação e investimento em novas tecnologias.
            Sempre que nos deparamos com uma crise mundial estimulamos o consumo e nos últimos anos criamos uma grande bolha de dívidas, principalmente entre os membros da nova classe média. A pergunta é: Quando essa bolha vai estourar?
            Em um país com mais de 10% de pessoas analfabetas, isso sem falar dos 70% supostamente alfabetizados, porém com graves dificuldades de interpretação de texto e compreensão matemática, fica fácil fazer de conta que uma crise que se espalha internacionalmente não vai atingir nossa indiscutivelmente frágil economia. Dentro deste contexto a incoerência utilizada no título do texto torna-se muito coerente.
            Estamos nadando contra a corrente, enquanto os países mais desenvolvidos investem muito em Educação, nossa sociedade parece ignorar essa necessidade, enquanto os mais sensatos investem em tecnologias limpas e transporte público coletivo, nós temos orgasmos ao falar do Pré-sal e estimular a venda incontrolável de automóveis sem nem mesmo adequar nossas estradas e ruas para recebê-los.
            Nosso governo gasta muito, paga muito para políticos que gastam ainda mais criando “Cargos de confiança”, nossa carga tributária é horripilante e os serviços públicos parecem nunca melhorar, mesmo recebendo supostamente tanto dinheiro proveniente dos nossos impostos.
            Os projetos sociais que indiscutivelmente foram necessários e que salvaram muitas vidas foram mal planejados, sem planos óbvios de continuidade como estímulo intenso à formação educacional e profissional, além da geração de empregos novos, abundantes e melhor remunerados.
            A criminalidade cresce como nunca antes, a corrupção continua a se alastrar, o salário mínimo continua muito abaixo do desejável e pela primeira vez na nossa história o crime passou a compensar, pois além de matar e roubar, caso seja preso o detento tem direito a mais de 900 reais por descendente, visitas íntimas, alimentação com qualidade superior a merenda de muitas escolas, isso sem falar dos celulares e outras regalias que muitos presos têm acesso informalmente.
             A Europa está em crise, os Estados Unidos Estão em crise, e nós?
            Mesmo supondo que todos os problemas acima citados não caracterizem uma crise, será inteligente e sensato continuar crendo que nossa economia é inabalável?
            Vamos continuar esperando a “Marolinha” e correndo o risco de encontrar um “Tsunami”?
            Analisemos a Nação que somos e imaginemos a Nação que deveríamos ser, pois até agora, o Gicante Latino Americano continua dormindo, ou pior, está em estado de torpor.

Um comentário:

  1. Uma reflexão crítica acerca da nossa contingência social e polítia, bem articulada e endossada por livros do Eduardo Galeano, "As veias abertas da América Latina". Muito bom o seu texto, principalmente porque vivemos um estágio peculiar da cultura e da sociedade brasileira. Prof. Mauro de Souza - escritor e filósofo.

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