sábado, 23 de junho de 2012

Fomentando a Miséria Humana




            Há mais de 2500 anos, uma figura religiosa que assim como a maioria delas vaga na história entre o mito e o real teria proferido a frase “Vida é sofrimento” fazendo uma menção à miséria característica da condição humana.
            Se viver é sofrer, e talvez seja, pois os fatos mais marcantes das vidas da maioria das pessoas estão quase sempre relacionados às desgraças ou grandes tristezas, certamente o Pronto Socorro Municipal de Taubaté tem incomparável desempenho no que se refere a lembrar as pessoas que elas estão vivas, pois lá sem dúvida alguma pode-se encontrar muito sofrimento.
            Nesses dois últimos dias estive por longas horas no Pronto Socorro Taubateano, tendo o desprazer de presenciar o sofrimento de muitas pessoas e vivenciar alguns dos motivos que muito colaboram com sua intensificação e continuidade.
            Ontem, dia 22 de junho de 2012, sexta-feira, levei minha enteada ao Pronto Socorro Municipal, esperei durante duas horas para que ela fosse atendida e por mais duas para que exames fossem realizados, finalizando a noite com um inconcluso diagnóstico de infecção urinária.
            O diagnóstico não foi concluído porque um dos exames, o de urina, demoraria aproximadamente 6(seis) horas para ser elaborado (algo até certo ponto aceitável), porém o que me deixou inconformado foi o fato de uma das funcionárias do Pronto Socorro ter recomendado à minha mulher que esperássemos lá, até que o laboratório entregasse o resultado, pois isso facilitaria o atendimento e conclusão do diagnóstico.
            Imaginem, manter uma criança de 12 anos, com dores subabdominais, sentada nas desconfortáveis poltronas do saguão do Pronto Socorro, em contato prolongado com o insalubre e infectante ambiente hospitalar.
            Obviamente, como manda o bom senso, viemos para nossa casa, dormimos, descansamos e retornamos ao Pronto Socorro Municipal às 8 (oito) horas da manhã do dia seguinte, hoje dia 23 de junho de 2012. Ao chegar ao recinto supracitado, esperamos por mais 1 (uma) hora para sermos atendidos e para nossa nada grata surpresa, em aproximadamente 8 (oito) horas a ficha da minha enteada havia DESAPARECIDO, juntamente com os exames de urina e raio X.
            Depois de horas de espera, adentrando a tarde de sábado, os exames foram encontrados, fomos atendidos e os medicamentos indicados.
            Essa Via Sacra fomentada pelo total descaso com o cidadão e com a saúde pública de nosso município, permitiu-me presenciar cenas assustadoras, de pessoas fisicamente debilitadas expostas a grandes esperas sem as mínimas condições de higiene e conforto exigidas para o funcionamento de um ambiente dedicado à saúde coletiva.
            Poucos médicos, atendimento demorado, mau acomodamento de pacientes sem a separação dos acometidos por doenças infecto-contagiosas, isso sem falar do mal cheiro dos banheiros e do uso coletivo das poltronas da sala de medicação sem nenhuma assepsia entre a troca de pacientes.
            A experiência vivida nesses dois dias me fez dar razão ao pensamento budista exposto no início deste texto, mas eu colocaria um breve complemento na frase. “Vida é sofrimento, principalmente quando dependemos do atendimento da saúde pública de um Município que não respeita a qualidade de vida dos seus cidadãos”.
            Situações como essa nos obrigam a aderir aos Planos Privados de Saúde, sempre muito caros e frequentemente ruins, embora sejam razoáveis quando são comparados com a triste realidade da nossa saúde pública.
            Para reduzir o risco de ser parcial e injusto, devo lembrar que as inadequadas condições da saúde pública não são exclusividade de Taubaté, pois o Brasil todo trata a saúde dos cidadãos com profundo descaso. Mas aproveitando a realidade local como referência, tenho total certeza de que grande parte dos meus impostos estão sendo jogados no lixo, ou nos bolsos de quem não respeita seus semelhantes.
            Antes de acabar, não posso deixar de relatar uma cena bastante peculiar da noite de sexta.
            Presenciei a livre entrada do filho de certo ex-vereador na área restrita do Pronto Socorro Municipal de Taubaté, ele chegou com um carro cheio de propagandas do “Serviço Assistencial” por eles prestado e depois de duas palavrinhas com o guarda entrou sem nenhuma cerimônia.
            Será que estava no Pronto Socorro Municipal para “Socorrer” alguém?
            Sim, Isto é Taubaté!!!

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