Há
mais de 2500 anos, uma figura religiosa que assim como a maioria delas vaga na
história entre o mito e o real teria proferido a frase “Vida é sofrimento”
fazendo uma menção à miséria característica da condição humana.
Se
viver é sofrer, e talvez seja, pois os fatos mais marcantes das vidas da
maioria das pessoas estão quase sempre relacionados às desgraças ou grandes
tristezas, certamente o Pronto Socorro Municipal de Taubaté tem incomparável
desempenho no que se refere a lembrar as pessoas que elas estão vivas, pois lá
sem dúvida alguma pode-se encontrar muito sofrimento.
Nesses
dois últimos dias estive por longas horas no Pronto Socorro Taubateano, tendo o
desprazer de presenciar o sofrimento de muitas pessoas e vivenciar alguns dos
motivos que muito colaboram com sua intensificação e continuidade.
Ontem,
dia 22 de junho de 2012, sexta-feira, levei minha enteada ao Pronto Socorro
Municipal, esperei durante duas horas para que ela fosse atendida e por mais
duas para que exames fossem realizados, finalizando a noite com um inconcluso
diagnóstico de infecção urinária.
O
diagnóstico não foi concluído porque um dos exames, o de urina, demoraria
aproximadamente 6(seis) horas para ser elaborado (algo até certo ponto
aceitável), porém o que me deixou inconformado foi o fato de uma das
funcionárias do Pronto Socorro ter recomendado à minha mulher que esperássemos
lá, até que o laboratório entregasse o resultado, pois isso facilitaria o
atendimento e conclusão do diagnóstico.
Imaginem,
manter uma criança de 12 anos, com dores subabdominais, sentada nas
desconfortáveis poltronas do saguão do Pronto Socorro, em contato prolongado com
o insalubre e infectante ambiente hospitalar.
Obviamente,
como manda o bom senso, viemos para nossa casa, dormimos, descansamos e
retornamos ao Pronto Socorro Municipal às 8 (oito) horas da manhã do dia
seguinte, hoje dia 23 de junho de 2012. Ao chegar ao recinto supracitado,
esperamos por mais 1 (uma) hora para sermos atendidos e para nossa nada grata
surpresa, em aproximadamente 8 (oito) horas a ficha da minha enteada havia
DESAPARECIDO, juntamente com os exames de urina e raio X.
Depois
de horas de espera, adentrando a tarde de sábado, os exames foram encontrados,
fomos atendidos e os medicamentos indicados.
Essa
Via Sacra fomentada pelo total descaso com o cidadão e com a saúde pública de
nosso município, permitiu-me presenciar cenas assustadoras, de pessoas
fisicamente debilitadas expostas a grandes esperas sem as mínimas condições de
higiene e conforto exigidas para o funcionamento de um ambiente dedicado à
saúde coletiva.
Poucos
médicos, atendimento demorado, mau acomodamento de pacientes sem a separação
dos acometidos por doenças infecto-contagiosas, isso sem falar do mal cheiro
dos banheiros e do uso coletivo das poltronas da sala de medicação sem nenhuma
assepsia entre a troca de pacientes.
A
experiência vivida nesses dois dias me fez dar razão ao pensamento budista
exposto no início deste texto, mas eu colocaria um breve complemento na frase.
“Vida é sofrimento, principalmente quando dependemos do atendimento da saúde
pública de um Município que não respeita a qualidade de vida dos seus
cidadãos”.
Situações
como essa nos obrigam a aderir aos Planos Privados de Saúde, sempre muito caros
e frequentemente ruins, embora sejam razoáveis quando são comparados com a
triste realidade da nossa saúde pública.
Para
reduzir o risco de ser parcial e injusto, devo lembrar que as inadequadas
condições da saúde pública não são exclusividade de Taubaté, pois o Brasil todo
trata a saúde dos cidadãos com profundo descaso. Mas aproveitando a realidade
local como referência, tenho total certeza de que grande parte dos meus
impostos estão sendo jogados no lixo, ou nos bolsos de quem não respeita seus
semelhantes.
Antes
de acabar, não posso deixar de relatar uma cena bastante peculiar da noite de
sexta.
Presenciei
a livre entrada do filho de certo ex-vereador na área restrita do Pronto
Socorro Municipal de Taubaté, ele chegou com um carro cheio de propagandas do
“Serviço Assistencial” por eles prestado e depois de duas palavrinhas com o
guarda entrou sem nenhuma cerimônia.
Será
que estava no Pronto Socorro Municipal para “Socorrer” alguém?
Sim,
Isto é Taubaté!!!
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